30 de jul. de 2014

Brasil Holandês

Esse post apresentará mais sobre a heráldica criada e usada durante a ocupação de parte do nordeste do Brasil pela Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (1630-1654), na chamada Nieuw Holland (Nova Holanda), popularmente conhecida como Brasil Holandês.

O uso dos brasões descritos abaixo tiveram razoável uso durante o período holandês. Aparecem nas gravuras elaboradas por Frans Post, e no frontispício da obra "Rerum in Brasilia et alibi gestarum" (1647), de Gaspar Barléu (em latim, Caspar Barlaeus), reproduzido abaixo (clique na imagem para aumentar):


As quatro províncias

As quatro províncias que constituam o Brasil Holandês — Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande — receberam cada uma brasão próprio em 1638, dadas pelo príncipe Maurício de Nassau. As cores não são descritas, então uso as que creio ser as mais frequentemente utilizadas.

A província de Pernambuco recebeu um brasão com uma donzela, segurando, em uma de suas mãos, um espelho (referência parlante ao nome da então capital da província, Olinda) e, na outra, um caule de cana-de-açúcar, que era seu principal produto.

Pernambuco: De prata, mulher segurando, em sua mão destra, uma cana-de-açúcar, e, em sua mão sinistra, um espelho, tudo de sua cor.

Itamaracá recebeu brasão com três cachos de uvas, já que sua ilha produzia, naquele momento, as melhores uvas do Brasil.

Itamaracá: De prata, três cachos de uvas de sua cor.

Devida a sua grande e famosa virtude açucareira, a província da Paraíba ostentava um brasão com seis pães de açúcar.

Paraíba: De azul, seis pães de açúcar de ouro

A província do Rio Grande (que ainda não tinha adicionado "do Norte" ao nome) carregava um brasão com uma ema (que os antigos confundiam com um avestruz), que, aparentemente, era comum na região à época. Além disso, também ostentava faixas ondeadas, parlantes do Rio Grande (provavelmente, o rio Potengi).

Rio Grande: De ouro, uma ema de sua cor assente em uma faixa ondada de azul carregada de uma burela ondada de prata.

A colônia

A partir desses quatro brasões, o brasão do Brasil Holandês pode ser descrito com mais simplicidade:

Nova Holanda (Brasil Holandês): Esquartelado: I - Pernambuco; II - Itamaracá; III - Paraíba; IV - Rio Grande; escudete sobre o todo da Companhia das Índias Ocidentais.

O brasão da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais é apresentado com mais detalhe abaixo:

Companhia das Índias Ocidentais: Um barco navegando com velas enfunadas, decorado com a bandeira dos Países Baixos, tudo da sua cor

As comarcas de Pernambuco

Sabe-se que as demais comarcas da província de Pernambuco (que incluía território bem maior que o atual estado) também ganharam brasões no período holandês. Sabendo que as justificativas para os mesmos não foram documentadas, elas são mera interpretações.

A comarca de Alagoas (que hoje se localiza no município de Marechal Deodoro) tinha três tainhas em pala. Segundo a justificativa oficial das armas do atual estado de Alagoas, elas se referem ao farto pescado que se obtinha na região, e o número três se refere às principais lagoas (percebe-se, aí, elemento parlante) do então povoado: Mundaú, Manguaba e Jequiá. Uma interpretação alternativa, sem comprovações, faz crer que os peixes não deviam ser tainhas, mas sardinhas, e relaciona-as ao devoramento do bispo Pero Fernandes Sardinha por índios caetés, que teria ocorrido na região de Alagoas.

Alagoas: De prata, três tainhas em pala, da sua cor.

Não achando nenhuma versão vetorial de tainhas, criei-as para essa ocasião.

A comarca de Igarassu recebeu três siris, provavelmente referência à economia da comarca.

Igarassu: De prata, três siris de vermelho.

Porto Calvo teve sua orografia representada, destacando seus três principais morros: Cemitério, Hospital e Igreja Matriz.

Porto Calvo: De prata, três montes de vermelho, unidos, o do meio mais alto.

As três coroas presentes no brasão de Sergipe provavelmente se referem ao fato de ser conhecido, à época, como "Sergipe d'El-Rei" e o sol, seguindo a mesma lógica, é conhecido como "astro-rei".

Sergipe: De vermelho, sol de ouro em seu esplendor; em contrachefe, três coroas do mesmo em roquete.

Resta ainda Serinhaém, que ganhou um cavalo em seu brasão, em referência à boa qualidade da criação equina que se podia encontrar, na ocasião, nessa comarca.

Serinhaém: De vermelho, cavalo passante de prata.

Encerramento

O próprio Gaspar Barléu apresenta sua interpretação aos brasões, que pode-se ler abaixo:
Os lauréis que, na parte superior, encerram no centro os leões, quiseram assim aludir ao seu titular [Maurício de Nassau]. Fulge de um lado, a coroa mural, que se confere em recompensa das portas entradas; do outro, adorna por cima, os esporões dos navios os prêmios com que se honram as vitórias navais. A virgem pernambucana mira os seus olhinhos, e, graciosa, ergue a mão, a qual segura uma cana. Próxima, a fecunda Itamaracá exibe os seus nectários racimos e os magníficos dons do próprio solo. Junto a ela, a Paraíba põe nas formas o dulcíssimo açúcar e o torna grato aos povos. O avestruz, errante habitador do Rio Grande, foge correndo, e falsamente imagina que se lhe dá de comer. Destarte se ufana o Novo Mundo com os brasões batavos, e, sob o governo de Maurício, floresce-lhe a gleba feraz. As gentes que a terra distingue defende-as um só Chefe. E a Nau de Marte sulca as águas ocidentais, fazendo conhecidos os seus mercantes e os senhores do mar. Em frente pasma-se o Sol ante as armas, ainda que violentas. Tu, Sergipe, pões em face de tuas moradas as flamas de Febo, e sozinhos queres ser chamado de el Rey. Teus são, Iguaraçu (sic), os caranguejos. A ti, Porto Calvo, aprazem os cimos: ali estás sobranceiro, ó tu, que deves ser temido daquelas cumeadas. O gênero escamígero [metáfora para os peixes] mergulha-se nas rédeas das Alagoas. Contra Serinhaém relincha o belicoso corcel. Crava a âncora na areia os dentes entravados e quer se nos deem ali reinos diuturnos. A bússola aponta para o Ocidente, mas não olha para o Levante. Por quê? Porque reina cada um em plagas distintas. A fama que vês soprar os clarins e as tubas, mostra não o esforço, mas o ar de quem apregoa tão grandes cousas.
Informações adicionais podem ser encontradas aqui.

Comentários são bem-vindos!

6 comentários:

  1. Caramba! muito massa teu trabalho.

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  2. Uau, não sabia que eram tantas!

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  3. Por gentileza, alguém sabe informar onde posso encontrar os Brasões coloridos de da Capitania de Itamaracá? Houve uma confrontos entre caravelas em 1640 no litoral entre Igarassu e Itamaracá...retratadas por Frans Post...Eu tenho esse brasão só que está em preto e branco...

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    1. https://2.bp.blogspot.com/-VTzToooN9WM/V-PDfYNayHI/AAAAAAAAIMc/qQQxgY3Kqt4Id80Azi8Q7Nf9sQz5do0MgCLcB/s1600/Brasoes.jpg

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  4. Alguém pode me informar onde posso encontrar os Brasões com suas as cores? Grato!

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