16 de mar. de 2014

França Equinocial

Entre as muitas tentativas francesas de estabelecer colônias a partir do litoral do Brasil, destacam-se a França Antártica, na baía de Guanabara,e a França Equinocial, que, em seu auge, abrangeu territórios dos atuais estados de Maranhão, Piauí, Pará e Amapá, e que tem como legado a Guiana Francesa. Mas o grande coração desse empreendimento era a gloriosa São Luís.

Há poucos dias, sendo aprofundado no tema, deparei-me com a folha de rosto da obra Historie de la mission des pères capucins en l'isle de Maragnan et terres circonvoisines, de Claude d'Abbeville (1604), uma obra sobre a conversão de indígenas na ilha de São Luís que ajudou a difusão do "mito do bom selvagem". Segue imagem da mesma (clique na imagem para aumentar):


A folha de rosto contém dois brasões relacionados ao empreendimento da França Equinocial. O primeiro, bem óbvio, era o do Reino da França, à esquerda, timbrado com a coroa real da França e cercado pelos colares da Ordem de São Miguel e da Ordem do Espírito Santo.

França moderno: De azul, três flores-de-lis de ouro.
O outro escudo, à direita, até então misterioso para mim, pôde ser identificado com a ajuda do próprio livro: segundo o mesmo, atribuído à França Equinocial, como se pode evidenciar neste trecho da tradução do livro ao português (disponível online aqui):
Ó França, não és tu o reino dos Lyrios ? Não adornam os Lyrios o reino de França ? Assim também esta França equinoccial é com especialidade o Reino do Sol, e o sol embellesa particularmente esta França equinoccial, visto que d'ahi não sahe e ahi dorme perpetuamente. 
Indis Sol splendet, splendescunt lilia Gallis.* 
Deos, ó França, honrou-te dando-te por armas para teo Reino três bellos lyrios cor de oiro em campo azul: não lhe será por tanto desagradável, que a este reino da nova França equinoccial se dé um sol de fino ouro sobre um campo azul para que a unidade da Essência Divina seja n'ella mysteriosamente figurada, como é em ti representada a trindade das três pessoas divinas, e como reconheces depender a bellesa de teos lyrios do esplendor de Deos, verdadeíro sol da justiça, alegrar-te-has d'ora em diante vendo o explendor do bello sol da França equinoccial realçar a bellesa de teos lyrios, e comtemplar teo Rei não só como rei do sol mas também como o verdadeiro hieroglypho da Magestade Divina. 
* Em latim, O Sol da Índia brilha, or lírios franceses brilham.
Daí, pode-se supor os esmaltes do escudo, que, no frontispício, é timbrado com uma coroa antiga.

França Equinocial: De azul, sol de ouro em seu esplendor.
Um sol em seu esplendor é, em heráldica, representado com raios retos e ondulados intercalados, e, normalmente, uma face humana, tal como na ilustração.

Uma curiosidade é que os dois brasões são abraçados pela expressão "et permanebit cum sole", presente nos Salmos 71(72):5.

Se alguém conhecer qualquer outra aparição do segundo brasão, favor citá-la nos comentários.

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